Saturday, September 12, 2009

Arte "ofensiva"?!

Sou da opinião de que não existe aquilo que se chama de “arte ofensiva”, simplesmente porque uma obra de arte jamais afeta duas pessoas da mesma maneira. Por isso, esse é um conceito quase que impossível pra mim, pois com certeza haverá alguém a abominar o que eu admiro e vice-versa, e é essa diversidade de propostas e de opiniões é uma das coisa que mais dá graça a qualquer expressão artística que se saiba. De forma alguma vou levantar qualquer tipo de polêmica e nem mesmo defender bandeira alguma; só estou dando a minha opinião antes de abordar o tema.

Exatamente por isso mesmo, veja abaixo algumas expressões artísticas que são polêmicas por natureza – como toda obra de arte deveria ser, aliás. Escolhi apenas um artista entre as mais variadas formas de arte possíveis, só pra dar uma ideia do que digo aqui.


LITERATURA – “KAMA SUTRA”





Talvez seja o livro mais mal entendido, injustiçado e perseguido em toda a história, e pra mim é incompreensível toda a confusão em torno de uma obra que simplesmente ilustra e instrui como dois parceiros sexuais podem dar mais prazer um ao outro. Quer dizer, isso só rola na cultura ocidental, porque lá na Ásia eles nem ligam pra isso e dão a dimensão que o livro merece, a de um clássico. Pelas bandas de lá, o povo costuma estranhar coisas como falta de respeito, honra e compromisso, coisas essas que infelizmente são mais do que rotineiras em nosso dia-a-dia.
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MÚSICA – G.G. ALLIN





Ele já foi chamado de “o mais nojento dos punks”, e fazia por onde ter tal reputação; entre as façanhas do figura, constam apresentar-se constantemente bêbado e/ou alucinado de alguma droga pesada, vomitar e defecar em pleno palco e lançar discos tão ou mais toscos do que a própria imagem que ele transmitia. O tipo de som que ele produzia nunca fez a minha cabeça, mas ele conquistou um séquito de seguidores no mundo inteiro; digamos que ele fazia uma “música escrota pra gente escrota”, o que o transformou num ícone underground principalmente após a sua morte. Diante dele, o maldosão de butique Marilyn Manson seria um mero apresentador de programa infantil matinal, e nada além disso.

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ILUSTRAÇÃO – H. R. GIGER, “PENIS LANDSCAPE”





Giger já havia se consagrado após a direção de arte do filme “Aliens”, e resolveu liberar que uma ilustração fosse usada como poster do álbum “Frankenchrist”, dos Dead Kennedys. O que ele não contava é que “Penis Landscape” fosse criar tantos problemas pra banda, que foi obrigada a retirar o poster do encarte do LP, e enviar pelo correio apenas a quem provasse ser maior de idade. Isso fez com que os debates sobre os limites de artistas fosse reativado nos EUA, e acabou culminando nos famigerados selinhos de “parental advisory” que acompanham as capas de cds naquele estranho país do norte.

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GRAFITE – BANKSY











Já fiz um post exclusivo sobre o cara, que não pára de chocar e nem de surpreender e é o meu artista plástico contemporâneo favorito. Não dá pra ficar indiferente a qualquer peça que tenha a sua assinatura, e as reações variam de discretas risadas à impressão que se acabou de levar um bofetão nas fuças. Uma simples olhada nessa peça dá uma noção do que o próprio chama de arte: ”prefiro que chamem o que faço de vandalismo, não admito que chamem a minha produção de arte”...


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PINTURA – PABLO PICASSO, “GUERNICA”






A obra do mestre do cubismo já não é pra qualquer um, e também provoca reações. Não seria diferente com aquela que se tornou a sua obra mais conhecida, e que retratou o covarde bombardeio da cidade basca por forças que apoiavam o ditador nacionalista Franco. Muitas interpretações foram dadas à obra ao longo de seus 72 anos de existência, e muito já foi falado e escrito sobre ela. O próprio Picasso gostava de uma bela polêmica, uma vez que criou a pintura pra representar a arte da Espanha numa exposição em Paris... Por conta disso, teve até de responder a um oficial da Gestapo nazista sobre a peça (!), e manteve um diálogo histórico com seu inquisidor:
- Nazista: Foi o senhor que fez essa obra?
- Picasso: Não, foram vocês que fizeram.

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FOTOGRAFIA – ROBERT MAPPLETHORPE



Todo mundo tem um corpo pra chamar de seu, certo?! Então que mal há em se fotografar belos corpos nus em preto e branco?! Ele fotografou nus masculinos e femininos em poses parecidas com as de estátuas, e muitas de suas imagens tem um forte conteúdo erótico, quando não homossexual. O fato dele também ter feito inúmeros retratos de personalidades e suas amplas fotos de flores em zoom acabaram sendo obliterados pelo rififi em torno de suas suas peças mais fortes, o que é uma injustiça pra um dos fotógrafos que melhor exploraram a estética do P&B.

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HQ – LOURENÇO MUTARELLI



Sim, HQs também podem ser instigantes e perturbadores, isso pra usar logo duas expressões da moda... Alguns de seus álbuns se tornaram clássicos, como “Transubstanciação”, “Mundo Pet”, “Jesus Kid” e “A Soma de Tudo”, mostrando uma visão niilista e caótica do mundo sem sentido em que a gente vive. A obra dele é tão densa e complexa que o universo do artista foi retratado no filme “O Cheiro do Ralo”, na qual um ator vive o quadrinista. Indicado pra quem gosta de quadrinhos que façam pensar, ou cerca de 1% dos admiradores dessa forma de arte.


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CINEMA – filmes de CLÁUDIO ASSIS



Você aprecia filmes que tenham uma sequência lógica (tipo “começo, meio e fim”), e que tenha um final feliz de preferência?! Então fuja dos filmes do diretor pernambucano da mesma forma que um vegetariano fugiria de um bife mal passado; não há muito o que dizer de “Amarelo Manga”, a obra que o revelou ao país e ao mundo, a partir do próprio slogan do filme – “o ser humano é estômago e sexo”. Curto e grosso, sua obra posterior também não faz concessões ao que se convencionou chamar de “bom gosto”, como em “Texas Hotel” ou “Baixio das Bestas”. Assista a um de seus filmes e veja se você consegue ficar indiferente; caso o consiga, procure um médico urgente pois pode ser o caso clássico de “morreu e não sabe”...

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Som do post – Fino Coletivo, “Medo de briga”.

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