Exatamente por isso mesmo, veja abaixo algumas expressões artísticas que são polêmicas por natureza – como toda obra de arte deveria ser, aliás. Escolhi apenas um artista entre as mais variadas formas de arte possíveis, só pra dar uma ideia do que digo aqui.
LITERATURA – “KAMA SUTRA”
Talvez seja o livro mais mal entendido, injustiçado e perseguido em toda a história, e pra mim é incompreensível toda a confusão em torno de uma obra que simplesmente ilustra e instrui como dois parceiros sexuais podem dar mais prazer um ao outro. Quer dizer, isso só rola na cultura ocidental, porque lá na Ásia eles nem ligam pra isso e dão a dimensão que o livro merece, a de um clássico. Pelas bandas de lá, o povo costuma estranhar coisas como falta de respeito, honra e compromisso, coisas essas que infelizmente são mais do que rotineiras em nosso dia-a-dia.
MÚSICA – G.G. ALLIN
Ele já foi chamado de “o mais nojento dos punks”, e fazia por onde ter tal reputação; entre as façanhas do figura, constam apresentar-se constantemente bêbado e/ou alucinado de alguma droga pesada, vomitar e defecar em pleno palco e lançar discos tão ou mais toscos do que a própria imagem que ele transmitia. O tipo de som que ele produzia nunca fez a minha cabeça, mas ele conquistou um séquito de seguidores no mundo inteiro; digamos que ele fazia uma “música escrota pra gente escrota”, o que o transformou num ícone underground principalmente após a sua morte. Diante dele, o maldosão de butique Marilyn Manson seria um mero apresentador de programa infantil matinal, e nada além disso.
ILUSTRAÇÃO – H. R. GIGER, “PENIS LANDSCAPE”
Giger já havia se consagrado após a direção de arte do filme “Aliens”, e resolveu liberar que uma ilustração fosse usada como poster do álbum “Frankenchrist”, dos Dead Kennedys. O que ele não contava é que “Penis Landscape” fosse criar tantos problemas pra banda, que foi obrigada a retirar o poster do encarte do LP, e enviar pelo correio apenas a quem provasse ser maior de idade. Isso fez com que os debates sobre os limites de artistas fosse reativado nos EUA, e acabou culminando nos famigerados selinhos de “parental advisory” que acompanham as capas de cds naquele estranho país do norte.
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GRAFITE – BANKSY
Já fiz um post exclusivo sobre o cara, que não pára de chocar e nem de surpreender e é o meu artista plástico contemporâneo favorito. Não dá pra ficar indiferente a qualquer peça que tenha a sua assinatura, e as reações variam de discretas risadas à impressão que se acabou de levar um bofetão nas fuças. Uma simples olhada nessa peça dá uma noção do que o próprio chama de arte: ”prefiro que chamem o que faço de vandalismo, não admito que chamem a minha produção de arte”...
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PINTURA – PABLO PICASSO, “GUERNICA”
A obra do mestre do cubismo já não é pra qualquer um, e também provoca reações. Não seria diferente com aquela que se tornou a sua obra mais conhecida, e que retratou o covarde bombardeio da cidade basca por forças que apoiavam o ditador nacionalista Franco. Muitas interpretações foram dadas à obra ao longo de seus 72 anos de existência, e muito já foi falado e escrito sobre ela. O próprio Picasso gostava de uma bela polêmica, uma vez que criou a pintura pra representar a arte da Espanha numa exposição em Paris... Por conta disso, teve até de responder a um oficial da Gestapo nazista sobre a peça (!), e manteve um diálogo histórico com seu inquisidor:
- Nazista: Foi o senhor que fez essa obra?
- Picasso: Não, foram vocês que fizeram.
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FOTOGRAFIA – ROBERT MAPPLETHORPE
Todo mundo tem um corpo pra chamar de seu, certo?! Então que mal há em se fotografar belos corpos nus em preto e branco?! Ele fotografou nus masculinos e femininos em poses parecidas com as de estátuas, e muitas de suas imagens tem um forte conteúdo erótico, quando não homossexual. O fato dele também ter feito inúmeros retratos de personalidades e suas amplas fotos de flores em zoom acabaram sendo obliterados pelo rififi em torno de suas suas peças mais fortes, o que é uma injustiça pra um dos fotógrafos que melhor exploraram a estética do P&B.
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HQ – LOURENÇO MUTARELLI
Sim, HQs também podem ser instigantes e perturbadores, isso pra usar logo duas expressões da moda... Alguns de seus álbuns se tornaram clássicos, como “Transubstanciação”, “Mundo Pet”, “Jesus Kid” e “A Soma de Tudo”, mostrando uma visão niilista e caótica do mundo sem sentido em que a gente vive. A obra dele é tão densa e complexa que o universo do artista foi retratado no filme “O Cheiro do Ralo”, na qual um ator vive o quadrinista. Indicado pra quem gosta de quadrinhos que façam pensar, ou cerca de 1% dos admiradores dessa forma de arte.
CINEMA – filmes de CLÁUDIO ASSIS
Você aprecia filmes que tenham uma sequência lógica (tipo “começo, meio e fim”), e que tenha um final feliz de preferência?! Então fuja dos filmes do diretor pernambucano da mesma forma que um vegetariano fugiria de um bife mal passado; não há muito o que dizer de “Amarelo Manga”, a obra que o revelou ao país e ao mundo, a partir do próprio slogan do filme – “o ser humano é estômago e sexo”. Curto e grosso, sua obra posterior também não faz concessões ao que se convencionou chamar de “bom gosto”, como em “Texas Hotel” ou “Baixio das Bestas”. Assista a um de seus filmes e veja se você consegue ficar indiferente; caso o consiga, procure um médico urgente pois pode ser o caso clássico de “morreu e não sabe”...
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Som do post – Fino Coletivo, “Medo de briga”.
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