Saturday, December 12, 2009

6EMEIA



















"Em uma cidade tensa, confusa e mergulhada em cores como o cinza e bege, o duo 6emeia destoa da paisagem com sua paleta d
e cores, levando vida e bom humor a todos."







Com essa proposta, o duo paulistano 6eMeia começou a espalhar sua arte por sua Barra Funda natal e em outros bairros da área. Com a notoriedade alcançada, a progressão natural seria uma exposição da arte de SÃO e Dalafuente, o que acabou acontecendo em 2007. O passo seguinte seria a contratação da dupla pra publicidade - uma campanha da Asics internacional.



Os caras começaram pintando bueiros, ralos e afins, passaram pra murais de diversos tamanhos (têm um de 63 metros na área do Belém) e montaram um site que eu recomendo que seja explorado.


Veja algumas mostras da arte do 6emeia - e contenha o riso se for capaz...







Som do post: The Good, The Bad & The Queen, "Northern whale".


Friday, December 4, 2009

"Jeitinho"...


A falta do que fazer é uma coisa extraordinária... Num dia desses, recebi a dica pra ir num site especializado em gambiarras a nível mundial, o There I Fixed It - algo como "dei o meu jeito". Pra quem acha que esse papo de "jeitinho" é exclusividade brazuca, é melhor renovar os seus conceitos depois de ver as imagens abaixo...




Isso é que é "carro híbrido"...








Skate and destroy...








O conforto de casa em qualquer situação...









Homem moderno ajuda nas tarefas domésticas...




Ganha uma mariola quem adivinhar quais são os hobbies de quem dirige esse aí...

"Mercedes Malz"...

"Homem-Michelin"...

Isso não é um sprinkler - e sim um "isprincler"...

Não tem tu, vai tu mesmo...

"Querida, vou ao mercado"...

Saturday, November 7, 2009

Mondo Bizarro (2)

Quem nunca recebeu um daqueles mails com imagens surpreendentes, que atire a primeira pedra...










"Mulher-Abóbora"?!






"Tiazinha chapa-quente"...





Não é o Lula...




Emília japa...






"Mulher-Elástico"...

"Coisa linda da mãe"...

Tatuar a língua?! Doeeeeeeeente!

Adereço obrigatório pra shows lotados...

Sem comentários...

"I'm a Barbie girl in a Barbie world"...

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Som do post: De La Soul - "Breakadawn"

Thursday, November 5, 2009

"Duskaraio!"

Minhas preferências musicais passam longe dos chamados "grandes estilos" da música brasileira, tanto por falta de hábito enquanto criança quanto por não apreciar a sonoridade mesmo. Por exemplo: comecei a prestar atenção na bossa nova quando começaram a mixar com drum'n'bass, muito embora não tenha virado fã de nenhum dos dois estilos. A minha formação musical seguiu à risca o perene "Manifesto Punk" escrito pelo Clemente (Inocentes, Plebe Rude), que entre outras coisas dizia o seguinte: "viemos atrasar o trem das onze, pintar de negro a asa branca e fazer da Amélia uma mulher qualquer".



Dito isso, eis o motivo pelo qual dei o título a esse post: a Orquestra Brasileira de Música Jamaicana. Essa "mini big band" de SP vem sendo imaginada há uns 4 anos, mas iniciou as suas atividades somente no ano passado - e que atividades! Os caras resolveram pegar alguns clássicos da música brasileira, como a peça clássica "O Guarani" de Carlos Gomes e o chorinho "Carinhoso" de Pixinguinha, e adaptaram pra ritmos jamaicanos como o ska, rock steady e o early reggae. Como eles mesmos se definem, "música brasileira com o gostoso balanço dos ritmos jamaicanos de raiz".


Entre os nove integrantes do grupo, encontram-se músicos envolvidos em outros excelentes coletivos, como do Funk Como Le Gusta e a Orquestra Paulista de Soul, além de integrantes de outras bandas de ska, como Skuba e Sapo Banjo, e outros originados de bandas interessantes como Karkak e Pato Fu. Sem trocadilho, um bando de gente talentosa só poderia dar nisso mesmo = uma banda de respeito.

Os puristas e xiitas da música brazuca podem até abominar a ideia, mas definitivamente não há como não reconhecer a qualidade sonora dos caras - mas enfim, como eu me lixo pra radicalismos e gosto de boa música, faço o meu que é divulgar. Faz o seguinte: primeiro vai lá no MySpace deles, e depois baixe o som aqui . Depois, afaste os móveis ao seu redor e bote o som no talo. Até seu vizinho mais chato vai aprovar e bater os pezinhos...


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Agradecimentos: Carlos "Calbuque" Albuquerque, pela excelente dica via Rio Fanzine.
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Som do post: Orquestra Brasileira de Música Jamaicana - "Águas de março dub"

Wednesday, October 28, 2009

RIP - SÓ PEDRADA MUSICAL


Um por um, os bons blogs de divulgação de arquivos musicais estão caindo.

Sabe-se lá o porquê, agora foi a vez do Só Pedrada Musical (projeto do DJ Tamenpi). Por isso mesmo, agora divulgo um manifesto que anda rolando pela blogosfera há algum tempo. Alguma coisa precisa ser feita pra que a real divulgação de boa música jamais possa ser impedida, nem mesmo com o argumento de que "distribuir música alheia gratuitamente é crime".

Na boa: crime é NÃO divulgar música diferenciada e boa.

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Mais um parceiro que se vai...
Another partner is gone...

Pois é, embora o trabalho do lado de cá continue sendo sério e engajado, as gravadoras não se permitem encarar a situação através de um novo ponto de vista.
Well, although work on this side remains serious and committed, the labels do not allow theirselves to face the situation through a new point of view.

Há alguns dias, o Blogger tirou do ar mais um grande parceiro do JimeneZine: Só Pedrada Musical.
Dirigido por Daniel Tamenpi, o blog tinha vários anos em seu currículo e um acervo de disco sensacionais.
A few days ago, Blogger had closed another major partner of JimeneZine: Só Pedrada Musical
Directed by Daniel Tamenpi, the blog had several years in its résumé and a sensational collection of music.

Acredito que boa parte dos discos postados por Tamenpi, não existiam em catálogo a disposição do público que acessava o seu blog.
I believe that most of the albuns posted by Tamenpi, did not exist anymore in the catalog to the public who access the blog.

Mais uma vez, o interesse de poucos, preponderou em relação aos interesses da massa.
A mesma massa que gera lucros absurdos para essas gravadoras que insistem em um formato tão ultrapassado quanto os seus stakeholders.
Again, the interest of a few, prevailed over the interests of the mass.
The same mass that generates absurd profits for these labels that insist on a format as outdated as their stakeholders.

Fica aqui nosso gesto de solidariedade a mais um parceiro que se vai.
Mas que deixou um legado importante na formação de um novo conceito de consumo de cultura.
It's our gesture of solidarity with another partner who will.
But he left an important legacy in the formation of a new concept of consumption culture.

Aos executivos das gravadoras que nos perseguem, deixamos a dica:
Peguem seus paletós engomados, suas contas gordas e cheias de dinheiro que vocês ganharam no passado, e vão morar na praia para ter alguns lampejos de felicidade nessa vida que vocês vivem.
Deixem que o mundo contemporâneo, seja liderado por pessoas com aspirações modernas.
To the record executives who persecute us, we leave a tip:
Grab your starched suits, their fat and full accounts, of cash you have earned in the past and will live on the beach to have some flashes of happiness in this life you live.
Let the contemporary world, is led by people with modern aspirations.

Mais uma vez, convocamos os parceiros de blog, os admiradores de boa música e de cultura em geral e todos aqueles que ficam indignados com esses excessos de poder a protestar.
Again, we call partners blog, the admirers of good music and culture in general and those who are outraged by these abuses of power to protest.

Convidamos todos os visitantes do blog, a “hastearem” simbolicamente essa bandeira em seus blogs, seus espaços de trabalho, suas casas, ou em qualquer outro espaço relevante de suas vidas.
We invite all visitors to the blog, the "stem" symbolically that banner on your blogs, your workspaces, their homes, or in any other area relevant to their lives.

Juntos, somos maiores do que todos eles.
Together, we are bigger than all of them.

Wednesday, October 7, 2009

Paper toys do kct...



Nos meus tempos de moleque, brinquedos de papel eram os barquinhos pra flutuar em poças d'água, os chapéus pras brincadeiras de "marcha-soldado" ou os aviõeszinhos pra serem jogados nos colegas de classe - isso quando o/a professor(a) não estava olhando, lógico. Havia também aqueles "bumerangues" de papel dobrado e molhado, que eram atirados com um elástico entre os dedos nas nucas dos desavisados da turma, e que geravam aquela velha frase "te pego lá fora"...

"Santos bonequinhos, Batman!"


Hoje em dia, os chamados "paper toys" assumiram o status de "cult" e os mais criativos formatos possíveis. Imagine se um cara resolvesse fazer um desses toys por dia durante um ano, usando como inspiração ícones culturais, políticos e sociais das últimas 4 décadas... Parece viajante demais pro seu gosto?!


A Obamania não tem limites...


Nem tanto. Isso é o que o maluco chamado simplesmente de Joe faz no seu blog, o Toy-A-Day: um brinquedo diferente por dia (ou quase), com o projeto pra ser baixado via arquivo pdf e permitindo aos internautas que também enviem as suas sugestões.


O maioral Bruce Lee



De Speed Racer e Batman & Robin aos Simpsons, de Bruce Lee a Barack Obama, passando por personagens de cinema e desenhos animados - tá todo mundo ali.















Super Mario sem musiquinha irritante...


Não deixe de dar um pulo no site, separe o kit "tesoura-e-cola" antes e não se esqueça de separar uma prateleira na estante. Duvido que você seja capaz de NÃO imprimir unzinho só que seja!











Woody & Buzz

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Som do blog: Black Kids, "Hurricane Jane".

Saturday, September 12, 2009

Arte "ofensiva"?!

Sou da opinião de que não existe aquilo que se chama de “arte ofensiva”, simplesmente porque uma obra de arte jamais afeta duas pessoas da mesma maneira. Por isso, esse é um conceito quase que impossível pra mim, pois com certeza haverá alguém a abominar o que eu admiro e vice-versa, e é essa diversidade de propostas e de opiniões é uma das coisa que mais dá graça a qualquer expressão artística que se saiba. De forma alguma vou levantar qualquer tipo de polêmica e nem mesmo defender bandeira alguma; só estou dando a minha opinião antes de abordar o tema.

Exatamente por isso mesmo, veja abaixo algumas expressões artísticas que são polêmicas por natureza – como toda obra de arte deveria ser, aliás. Escolhi apenas um artista entre as mais variadas formas de arte possíveis, só pra dar uma ideia do que digo aqui.


LITERATURA – “KAMA SUTRA”





Talvez seja o livro mais mal entendido, injustiçado e perseguido em toda a história, e pra mim é incompreensível toda a confusão em torno de uma obra que simplesmente ilustra e instrui como dois parceiros sexuais podem dar mais prazer um ao outro. Quer dizer, isso só rola na cultura ocidental, porque lá na Ásia eles nem ligam pra isso e dão a dimensão que o livro merece, a de um clássico. Pelas bandas de lá, o povo costuma estranhar coisas como falta de respeito, honra e compromisso, coisas essas que infelizmente são mais do que rotineiras em nosso dia-a-dia.
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MÚSICA – G.G. ALLIN





Ele já foi chamado de “o mais nojento dos punks”, e fazia por onde ter tal reputação; entre as façanhas do figura, constam apresentar-se constantemente bêbado e/ou alucinado de alguma droga pesada, vomitar e defecar em pleno palco e lançar discos tão ou mais toscos do que a própria imagem que ele transmitia. O tipo de som que ele produzia nunca fez a minha cabeça, mas ele conquistou um séquito de seguidores no mundo inteiro; digamos que ele fazia uma “música escrota pra gente escrota”, o que o transformou num ícone underground principalmente após a sua morte. Diante dele, o maldosão de butique Marilyn Manson seria um mero apresentador de programa infantil matinal, e nada além disso.

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ILUSTRAÇÃO – H. R. GIGER, “PENIS LANDSCAPE”





Giger já havia se consagrado após a direção de arte do filme “Aliens”, e resolveu liberar que uma ilustração fosse usada como poster do álbum “Frankenchrist”, dos Dead Kennedys. O que ele não contava é que “Penis Landscape” fosse criar tantos problemas pra banda, que foi obrigada a retirar o poster do encarte do LP, e enviar pelo correio apenas a quem provasse ser maior de idade. Isso fez com que os debates sobre os limites de artistas fosse reativado nos EUA, e acabou culminando nos famigerados selinhos de “parental advisory” que acompanham as capas de cds naquele estranho país do norte.

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GRAFITE – BANKSY











Já fiz um post exclusivo sobre o cara, que não pára de chocar e nem de surpreender e é o meu artista plástico contemporâneo favorito. Não dá pra ficar indiferente a qualquer peça que tenha a sua assinatura, e as reações variam de discretas risadas à impressão que se acabou de levar um bofetão nas fuças. Uma simples olhada nessa peça dá uma noção do que o próprio chama de arte: ”prefiro que chamem o que faço de vandalismo, não admito que chamem a minha produção de arte”...


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PINTURA – PABLO PICASSO, “GUERNICA”






A obra do mestre do cubismo já não é pra qualquer um, e também provoca reações. Não seria diferente com aquela que se tornou a sua obra mais conhecida, e que retratou o covarde bombardeio da cidade basca por forças que apoiavam o ditador nacionalista Franco. Muitas interpretações foram dadas à obra ao longo de seus 72 anos de existência, e muito já foi falado e escrito sobre ela. O próprio Picasso gostava de uma bela polêmica, uma vez que criou a pintura pra representar a arte da Espanha numa exposição em Paris... Por conta disso, teve até de responder a um oficial da Gestapo nazista sobre a peça (!), e manteve um diálogo histórico com seu inquisidor:
- Nazista: Foi o senhor que fez essa obra?
- Picasso: Não, foram vocês que fizeram.

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FOTOGRAFIA – ROBERT MAPPLETHORPE



Todo mundo tem um corpo pra chamar de seu, certo?! Então que mal há em se fotografar belos corpos nus em preto e branco?! Ele fotografou nus masculinos e femininos em poses parecidas com as de estátuas, e muitas de suas imagens tem um forte conteúdo erótico, quando não homossexual. O fato dele também ter feito inúmeros retratos de personalidades e suas amplas fotos de flores em zoom acabaram sendo obliterados pelo rififi em torno de suas suas peças mais fortes, o que é uma injustiça pra um dos fotógrafos que melhor exploraram a estética do P&B.

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HQ – LOURENÇO MUTARELLI



Sim, HQs também podem ser instigantes e perturbadores, isso pra usar logo duas expressões da moda... Alguns de seus álbuns se tornaram clássicos, como “Transubstanciação”, “Mundo Pet”, “Jesus Kid” e “A Soma de Tudo”, mostrando uma visão niilista e caótica do mundo sem sentido em que a gente vive. A obra dele é tão densa e complexa que o universo do artista foi retratado no filme “O Cheiro do Ralo”, na qual um ator vive o quadrinista. Indicado pra quem gosta de quadrinhos que façam pensar, ou cerca de 1% dos admiradores dessa forma de arte.


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CINEMA – filmes de CLÁUDIO ASSIS



Você aprecia filmes que tenham uma sequência lógica (tipo “começo, meio e fim”), e que tenha um final feliz de preferência?! Então fuja dos filmes do diretor pernambucano da mesma forma que um vegetariano fugiria de um bife mal passado; não há muito o que dizer de “Amarelo Manga”, a obra que o revelou ao país e ao mundo, a partir do próprio slogan do filme – “o ser humano é estômago e sexo”. Curto e grosso, sua obra posterior também não faz concessões ao que se convencionou chamar de “bom gosto”, como em “Texas Hotel” ou “Baixio das Bestas”. Assista a um de seus filmes e veja se você consegue ficar indiferente; caso o consiga, procure um médico urgente pois pode ser o caso clássico de “morreu e não sabe”...

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Som do post – Fino Coletivo, “Medo de briga”.

Friday, August 21, 2009

O filme do ano...

… ainda nem foi lançado em circuito comercial lá fora, mas já abalou nos festivais de Sundance, Edimburgh e Tribeca. Não é do tipo que vá mudar a vida de alguém, muito pelo contrário, tratando-se de uma obra direcionada puramente à diversão de quem assiste. É mais uma releitura dos anos 70, dessa vez de um gênero que havia sido esquecido inexplicavelmente nos últimos tempos: o blaxploitation.

Black Dynamite é a película do tipo “nem preciso ver pra gostar”. Retrata com fidelidade a atmosfera dos guetos negros, numa cuidadosa reconstituição de época: tanto os figurinos quanto os cenários são perfeitos, dá pra se sentir no Bronx ou no Harlem de 35 anos atrás. Isso sem falar nas gírias, na “ginga e malemolência” dos tempos em que a soul music imperava nas rádios. A trilha sonora foi compilada pela Wax Poetics, a melhor revista musical da atualidade, que traz bimestralmente os lançamentos, as histórias e as modas do universo da black music de todos os tempos.



Mas o melhor de tudo é o roteiro, igual ao de dezenas de outros filmes do gênero e que pode ser descrito em poucas frases. Reproduzindo o material de divulgação do filme: “quando o bandido The Man assassina seu irmão, injeta heroína nos orfanatos locais e inunda o gueto com bebida adulterada, Black Dynamite é o único herói desejando lutar desde as ruas banhadas de sangue da cidade até os corredores sagrados da Honky House”. Por aí já dá pra ver o que espera na telona: armas que disparam tiros sem parar; bandidos malvados até a medula, perseguindo vítimas inocentes até a alma; mulheres de todos os tipos e cores; perseguições de carros, saltos, vidros quebrados, explosões e afins; e porrada, mas muita porrada mesmo. O trailer dá uma ideia do que se trata, e o filme já está sendo muito bem considerado pela crítica especializada; um deles chegou a dizer que "Black Dynamite está para os filmes de blaxploitation como Austin Powers está pros filmes de ação dos anos 60 - uma bela e divertida releitura".




É claro que Black Dynamite é “o cara” – respeitado, bom de briga, mulherengo, malandrão. O ator Michael Jai White interpreta o protagonista, e o cara entende do riscado; afinal, ele é detentor de nada menos que 7 faixas-pretas em algumas artes marciais, a saber: shotokan, tae kwon do, kobudo, goju ryu, tang soo do, wushu e kyokushin. O cara foi protagonista da versão pro cinema de “Spawn”, e interpretou o chefão do crime Gobul no “The Dark Knight”. Ou seja, esculpido pro papel do justiceiro maldosão, com o tal “physique du role” pra interpretar o herói.



Uma das diversões adolescentes dos anos 70 eram os chamados “cinemas-poeira”, geralmente salas antigas que exibiam sessões duplas de filmes trash de todos os estilos, especialmente westerns-spaghetti, eróticos, policiais e de kung fu. Essas salas de exibição não tinham conforto algum, muito pelo contrário; as cadeiras eram de madeira, os projetores invariavelmente falhavam nas trocas de rolos, o som era abafado, as bombonières vendiam drops Dulcora e amendoim japonês (isso quando tinha uma, claro), “ar condicionado” era uma hipótese improvável e o quesito limpeza passava longe das pulgas que invariavelmente infestavam os locais. Eu particularmente era assíduo do antigo Polytheama, no Largo do Machado, onde vi todos os filmes de Bruce Lee – na época, o maior mito dos filmes de luta não era “cult” como hoje em dia.

Se você está achando que tudo isso faz o gênero “é tão ruim que acaba sendo bom”, melhor rever os seus conceitos. Ele segue à risca uma determinada estética tosca que, goste-se ou não, acabou virando hype após o reconhecimento do talento de diretores como Quentin Tarantino e o inglês Guy Pierce. De fato, QT resgatou o blaxploitation em seu filme “Jackie Brown”, onde resgata uma das musas do blaxploitation (Pam Grier) junto a pesos pesados como Robert de Niro e Samuel L. Jackson num filme à altura do estilo.


A única coisa ruim sobre o Black Dynamite é que são muito poucas as chances do filme passar por aqui, mesmo tendo sido exibido em festivais de cinema consagrados. Alguns contatos já foram feitos com o grupo Estação, do Rio, que não mostrou interesse algum em exibir a obra, e periga dos cariocas terem de pegar uma ponte aérea pra assistir ao filme em SP ou então esperar que alguém ripe o filme e baixá-lo na rede. Se fosse um desses filmes de arte contando a saga de um pastor de ovelhas do Uzbequistão, por exemplo, os caras iriam querer exibir correndo pra uma meia-dúzia de aficcionados nesse tipo de "filmes de arte" - como se todo filme, por pior que seja, também não fosse uma obra de arte... Vai entender!


Tenho certeza absoluta de que, se fosse exibido em poucas sessões por umas duas semanas, seria um sucesso de público; afinal, quantos quarentões que foram adolescentes naquela época, e que frequentavam os “poeiras”, não gostariam de assistir ao filme?! Ainda mais numa sala com tudo em cima – refrigerada, com boa qualidade de imagem e som, tendo pipoca e tudo o que se tem direito. Garanto que eu e vários amigos estaríamos presentes, e que ninguém iria sentir falta das pulgas...

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Som do post: "Don't joke with a hungry man", Spanky Wilson & The Quantic Soul Orchestra.